El Niño está entre os vilões da instabilidade climática

Por Alexandra Cavaler

 

Devido às abruptas mudanças nas temperaturas, Santa Catarina já registrou cinco tornados

 

A primavera tem como características, além do lindo colorido das flores, as chuvas. Mas neste ano, alguns fatores têm alterado ainda mais as temperaturas e provocado mudanças climáticas abruptas. Entre os fatores, segundo Caio Guerra, meteorologista da Defesa Civil de Santa Catarina, está o El Niño e o aquecimento global.

“Nessa estação, a primavera, é a época do ano que a gente sai de um período mais seco do inverno e passamos a ter registros de chuva mais tempestuosa. O que acontece é que neste período ocorre o retorno do transporte do calor e umidade que vem do norte do país, da região amazônica que se concentra aqui no sul. É uma espécie de corredor de umidade que vem dessas áreas mais ao norte, quentes e úmidas, e transportam esse ar quente e úmido aqui para o sul. Então na primavera, com esse padrão da atmosfera, se favorece a ocorrência de tempestades, ou seja, já é uma época de mais tempestades que neste ano, somado ao El Niño, que favorece esse padrão”, explicou Guerra, acrescentando que o que está acontecendo nestes últimos meses é que a umidade vinda do Norte faz com que as frentes frias fiquem estacionadas na região Sul, “assim como os ciclones se tornam mais frequentes, bem como a ocorrência de tempestades severas”.

Já Luan Alves da Silva, graduado em Geografia pela Unesc e pós-graduação em Formação Docente e Geografia Humana, ressalta que outros fatores ajudam a explicar a inconstância climática que vem ocorrendo no mundo todo, principalmente no Brasil. “Primeiro precisamos entender que o Brasil é um país de dimensões continentais, ou seja, tem um território muito grande e uma diversidade geográfica significativa. Temos praticamente seis tipos de clima completamente diferentes de uma região para outra e cada uma com suas características predefinidas por conta dessa imensidão que é o nosso território. A localização do Brasil também tem um fator considerável, pois estamos localizados no hemisfério sul que apresenta diferentes massas de ar: equatorial, tropical, polar o que também contribuir com essa variedade climática. Além disso, temos o que nós chamamos de zona de convergência intertropical alta subtropical que são essas trocas de temperaturas, e a questão da altitude uma vez que o Brasil tem áreas de serras e de planalto que afetam o clima. Registramos áreas com maior altitude com temperaturas mais amenas e áreas mais baixas que podem ter a temperatura mais elevada”.

Silva também enfatiza a questão do El Niño como um grande influenciador das alterações das temperaturas e explica: “O El Niño é um fenômeno climático que se explica, basicamente, pelo momento em que ele aquece as águas do oceano em todo o mundo e faz com que os continentes tenham mudanças bem imprevisíveis na sua questão climática. Então, vai ter regiões com temperaturas mais altas, períodos de seca; e outras terão períodos intensos de chuva. Por exemplo, estamos em novembro e temos a região sudeste mais quente, mais frio, com períodos de chuva, e períodos intensos de chuva. Inclusive, estamos vendo as enchentes ocorrendo. Se olharmos para a região Norte, parte do Centro-Oeste e parte do Sudeste: muito quente e seca”.

 

Aquecimento global também tem grande influência nas temperaturas

Todos sabem que o aquecimento global tem como responsáveis os próprios seres humanos. Isso tem envolvimento direto com o  desmatamento, queima de combustíveis fósseis, queima do carvão, do petróleo, do gás natural para a energia. Neste contexto, o professor Luan destaca que a importância de todos nesses processos, mas enfatiza a forma sustentável com que cada situação é desenvolvida. “Nós sabemos que tido isso tem a sua relativa importância, mas quando não são trabalhados de forma sustentável, podem gerar graves problemas. A questão do desmatamento, algumas práticas agrícolas também podem contribuir diretamente para o aquecimento global, então, sim, o ser humano tem grande parcela de culpa. Claro que não é só o aquecimento global em si que traz as mudanças nas temperaturas, pois tem toda uma questão climática por trás. Como eu falei a própria localização do Brasil também indica isso”.

Ele também ressalta que o calor, por exemplo, também está relacionado ao crescimento urbano. “Vamos pensar que as cidades são numerosas, têm muitos serviços, muitas indústrias, muitas construções. Isso também ajuda a ter cidades mais quentes, pois, normalmente, no espaço urbano há menos árvores. Existe, o que chamamos na geografia, poucos cinturões verdes, poucos pontos que vão criar uma umidade do ar que possa, por sua vez, deixar o ar mais úmido e fresco. Logo, o aquecimento global contribui, mas as próprias construções humanas e toda a dinâmica urbana também contribuem de forma negativa”, pontuou Silva.

 

Contribuição humana

Ao ser perguntado sobre a forma que as pessoas podem contribuir com a diminuição do aquecimento global ou minimizar esses impactos, o professor Luan salienta. “Como educador, a gente trabalha muito com relação à educação ambiental. E essas práticas que ensinamos nas escolas podem ser replicadas pelos alunos em suas casas. Então, se os alunos conseguirem absorver isso e levar para dentro de casa, já é um grande avanço. Outro fator é conscientizar o bairro, as regiões em torno, talvez espalhar uma mensagem mais consciente que envolva práticas mais sustentáveis. Que as empresas possam consumir sem desperdiçar. Inclusive, hoje, alguns municípios têm nos seus planos diretores a proibição de empresas que utilizem materiais ou produtos que podem afetar o meio ambiente ou afetar aquele município. Existem, também, cidades com áreas bem distribuídas: rural, industrial, residencial, e normalmente a área industrial está mais afastada da realidade rural e tudo mais, então você cria essas áreas justamente para não ter esses problemas ambientais”.

Silva ainda lembra que o engajamento comunitário é algo que vem sendo bastante trabalhado. “Penso que quando você trabalha o senso de comunidade, você alcança certos resultados e a diminuição dos impactos ambientais parte muito desse elo entre a comunidade, poder publico e demais membros da sociedade. Sem contar aquelas práticas mais comuns, de não desperdiçar a água ou alimentos, de você lutar por políticas públicas que forcem as pessoas a terem uma gestão da água mais consciente, que as empresas possam também investir em produtos que não sejam agravantes, entre outras questões. Ainda neste sentido podemos dizer que as construções são importantes, contam uma história, formam a paisagem cultural, mas o ponto é que muitas das cidades estão partindo para uma lógica perigosa, que é a de pensar nas edificações sem pensar em áreas verdes, em áreas de preservação ambiental, em áreas de floresta. E isso também contribui para esse aquecimento das temperaturas”, conconclui.

 

Fonte: jornal Tribuna de Notícias 

Foto: Nilton Alves 

 

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