quinta-feira, 13 novembro, 2025
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Especialista alerta para riscos do uso de receitas da internet na saúde íntima feminina

Nos últimos anos, tornou-se comum encontrar nas redes sociais receitas e “dicas caseiras” para o cuidado da saúde íntima feminina. Ingredientes como alho, vinagre de maçã, bicarbonato de sódio e até óleos essenciais são apresentados como soluções naturais para tratar infecções ou melhorar o equilíbrio vaginal. No entanto, segundo a ginecologista Gabriela Crema, da Clínica Belvivere, essas práticas podem trazer riscos significativos à saúde.

De acordo com a médica, a região vaginal possui uma microbiota específica, composta principalmente por lactobacilos, e um pH naturalmente ácido (entre 3,8 e 4,5) que atuam como mecanismos de defesa. “Alterar esse equilíbrio com substâncias sem orientação pode comprometer as defesas naturais e facilitar infecções”, explica.

Entre os métodos mais populares estão o uso de alho cru, o óleo essencial de orégano, o bicarbonato de sódio, o vinagre de maçã e o iogurte natural. Embora muitos desses produtos tenham propriedades reconhecidas em outros contextos, a ginecologista ressalta que não há evidências científicas sólidas que comprovem a eficácia ou a segurança de seu uso na região íntima.

No caso do alho, por exemplo, há relatos de uso oral ou vaginal para tratar candidíase, mas os estudos existentes não demonstraram benefício significativo em relação ao placebo. Além disso, inserir o alimento na vagina pode causar irritações, queimaduras e alterações na microbiota. Situação semelhante ocorre com o óleo de orégano: apesar de pesquisas laboratoriais indicarem potencial antifúngico, os resultados são experimentais e não há comprovação clínica em humanos.

Outro produto frequentemente citado nas redes é o bicarbonato de sódio, usado em banhos de assento para aliviar coceiras e corrimentos. Segundo a médica, essa prática pode modificar o pH vaginal e reduzir o número de bactérias protetoras, aumentando o risco de novas infecções. O mesmo vale para soluções com vinagre, que, embora pareçam “naturais”, podem irritar a mucosa e favorecer desequilíbrios vaginais.

Além dessas substâncias, produtos como sprays íntimos, sabonetes perfumados e clareadores vulvares também merecem atenção. “Esses cosméticos raramente têm respaldo científico e podem causar irritação, alergias e até alterações na flora vaginal”, reforça a ginecologista.

Automedicação pode mascarar infecções e atrasar o diagnóstico

O uso de métodos caseiros ou automedicação, alerta Gabriela, pode mascarar sintomas de infecções mais graves e atrasar o diagnóstico correto. Em alguns casos, o uso de lavagens internas e substâncias não indicadas está associado a complicações como doença inflamatória pélvica, alterações cervicais e impacto negativo na fertilidade.

A recomendação da especialista é manter uma rotina simples e segura de cuidados íntimos: “A higiene deve ser feita apenas na parte externa, com sabonetes suaves, roupas leves e de algodão. Lavagens internas, clareamentos ou uso de substâncias sem orientação devem ser evitados”, orienta.

Por fim, a médica reforça que a vagina não precisa de “limpezas” especiais. “Essas ideias vêm de mitos e padrões sociais, não de evidências médicas”, conclui. Para ela, o mais importante é procurar acompanhamento ginecológico regular e não substituir o diagnóstico profissional por soluções encontradas na internet.

Texto: Amanda Garcia Ludwig | Traquejo Comunicação

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