No cemitério meu marido solta a minha mão e paramos entre as salas. Olhamos para uma e para outra família e ele diz: – Parece que chegamos atrasados. Lembrei-me “esqueci a janela do carro aberta e com esta chuvinha.”
Voltei ao carro e nada do meu imaginário tinha acontecido. Peguei uma sombrinha e fiquei olhando para os túmulos, e sobre um deles mil flores animando os olhares. O que me encantou foram as mil flores nos três túmulos amigos, um ao lado do outro: violetas, orquídeas, amores-perfeitos, crisântemos e rosas: brancas, vermelhas, rosas e amarelas. Acabei me esquecendo do que eu fui fazer naquele cemitério.
Ao virar o rosto em direção a uma bela árvore, dei de cara com uma amiga dos meus tempos de menina, uma alegria saudosista. Queria saber tudo sobre minha mãe. Contei fatos importantes de Vó Ilma: sua vida, que ela havia me ajudado na criação dos meus dois filhos e quando ia falar que ela havia morrido há 10 anos uma surpresa me arrepiou dos pés a cabeça, a mulher empalideceu. E se antes usava um traje azul, de repente um vestido branco e some dentro do cemitério? Fiquei assustadíssima, pois imaginei que ela poderia ter morrido também.
Amedrontada fui até o túmulo e fiquei pensando "senão fosse o velório esta tarde poderia ser boa e não devo ficar pensando em morte, pois chegará a hora de todo mundo. Chegar é uma certeza, sem pressa. Não sou atemorizada e ninguém deve ser.” Como disse Woody Allen “não é que eu tenha medo de morrer, apenas não quero estar vivo quando acontecer.
”Olhei ao relógio e estava há 20 minutos longe do meu marido e ele devia estar uma fera comigo! Sai numa disparada e ele estava rezando ao lado do caixão e famílias desesperadas choravam. Pensei “my God, se todos rezam também vou rezar. E vou rezar para quem eu nem sei quem é?”
Orei muito e cansei. Bati com o cotovelo na cintura do João e ele deu um grito, fiquei vermelha e envergonhada. Ele fez um jeito de rir e todos começaram a rir. Pensei “que loucura, dá pra escrever um livro, e não vejo a hora de ir embora.”
Então falei no ouvido dele, chega de rezar, deste jeito tu vais para o céu, homem. Bota santo nisto! Ele disse no meu: – Claro que vou, não saio das missas e vou todos os velórios. Depois lhe perguntei: – Marido, este é o seu amigo de escola que morreu? Ele disse: – Claro que não mulher, não vê que me enganei, o João foi enterrado de manhã.
Ri até chorar, porque num ano só fomos dois velórios enganados. Rezei pra tia Rita que não era e levei flores para o Luis e me enganei colocando ao lado do caixão de Pedro. Isto está errado, mas que é engraçado é, Deus nem fica brabo com a “gente” porque foi sem querer, pensei.
Tudo ocorreu como deveria e encerrou com músicas, a “Banda” de Chico Buarque e “Disparada” de Geraldo Vandré. Ganhei mais um soco no ombro e acordei. Meu marido disse: – Hoje sonhasse demais mulher e vamos embora. Sai ao lado dele sorrindo e ele chorava de rir, foi o nosso dia!

Trabalhador morre durante manutenção de máquina em cerâmica
Um acidente grave foi registrado no começo da tarde desta