quarta-feira, 12 novembro, 2025
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Amigas ligadas pela fé e pela vida: Hospital São José realiza seu primeiro transplante renal entre vivos

Elas se conheceram há alguns anos, dentro da igreja, e desde então a amizade cresceu entre encontros, orações e partilhas de fé. Veridiane Feltrin e Ana Felicidade Rito Ardengue, ambas de Balneário Camboriú, não imaginavam que esse laço se tornaria, um dia, o fio que ligaria duas vidas de maneira tão transformadora. No sábado, dia 8, o Hospital São José de Criciúma foi o local que possibilitou que a vida das amigas ficasse ainda mais interligada. Foi na instituição que foi realizado com sucesso o transplante renal entre as duas. O primeiro entre doadores vivos da história do HSJosé. Uma cirurgia que uniu coragem, amor e esperança e que transformou a realidade de duas famílias.

Veridiane sempre acompanhou de perto a rotina difícil da amiga, que enfrentava os efeitos da insuficiência renal. “A Ana ia às reuniões da igreja muito fraca. Às vezes, nem conseguia ficar até o fim. Aquilo me tocava demais, me lembrava do meu pai, que teve câncer na medula e também ficou com os rins comprometidos. Eu não consegui doar para ele, e aquilo ficou dentro de mim por longos anos”, contou Veridiane Feltrin.

Com o tempo, as duas se aproximaram ainda mais. “Começamos a participar do mesmo grupo na igreja e eu via como ela estava sempre fragilizada. Eu pensava: será que tem alguma forma de ajudar? Comecei a orar e pedir direção pra Deus. Um dia, durante uma reunião, uma das meninas comentou que havia tentado doar, mas não deu certo. Na hora pensei: se ela tentou, eu também posso tentar”, conta a amiga.

Depois disso, Veridiane conversou primeiro com o marido de Ana, para não gerar expectativas antes da hora. “Falei com o Anderson, ele me ouviu com calma e disse que, se eu realmente quisesse, conversaríamos todos juntos. Foi o que fizemos. Ela aceitou, e começamos tudo de novo, exames, avaliações, consultas. Foi um processo longo, começado ainda em Balneário Camboriú, mas que encontrou o caminho certo aqui em Criciúma”, conta sorrindo.

Nos dias que antecederam a cirurgia, a emoção tomou conta. “Na quinta-feira, quando parei o trabalho e fiquei em casa, caiu a ficha. Eu só queria chorar. A gente não imagina o quanto um gesto pode transformar a vida de alguém. Para mim, não vai mudar nada agora, mas para ela muda tudo. Quando a doutora Cassiana explicou que seria muito difícil achar um doador falecido compatível, eu percebi o tamanho do que estava acontecendo. É uma alegria que não cabe no peito”, relata emocionada.

 

Um final feliz e uma nova vida

Do outro lado dessa história está Ana, que carrega no próprio nome a palavra “felicidade”. Ela descobriu a insuficiência renal por acaso, enquanto investigava dores de cabeça persistentes. “Eu trabalhava em hospital, conhecia médicos, e quando fiz os exames veio o diagnóstico. Fiquei um tempo tentando controlar, mas logo precisei iniciar a hemodiálise. Foram quatro anos de idas e vindas, afastamento do trabalho, muita esperança e também muito cansaço”, explica Ana Felicidade Rito Ardengue.

Durante esse tempo, Ana chegou a receber uma proposta de doação de outra amiga, mas os exames mostraram que não seria possível. “Quando isso aconteceu, a Veridiane me procurou. Ela disse que sentiu no coração que devia tentar. Eu não sabia nem o que dizer. Foram dois anos de exames, autorizações, pareceres médicos e até uma decisão judicial para permitir a doação. A gente começou tudo em Balneário, mas no fim veio para cá. Quando pisamos no Hospital São José, sentimos uma paz enorme. Tudo parecia encaixar”, relata.

Ela se emociona ao lembrar do atendimento recebido. “Fomos acolhidas de um jeito que não dá para explicar. A equipe foi atenciosa em cada detalhe. A doutora Cassiana explicava tudo com paciência, desde o funcionamento da lista até o que aconteceria no transplante. A gente sentiu muita confiança e o resultado está aqui”, conta Ana, emocionada.

A cirurgia foi realizada com sucesso. Ana, que até a véspera do procedimento ainda fazia hemodiálise, agora comemora os resultados. “Minha creatinina já está normal. Os médicos dizem que a recuperação está indo muito bem. A enfermeira até comentou que nunca tinha visto uma evolução tão rápida. Parece um sonho. Eu vivi anos ligada à máquina e agora posso dizer que tenho uma vida nova”, comemora.

 

O preparo da equipe e o significado desse primeiro transplante para o Hospital São José

De acordo com a diretora técnica e chefe do serviço de nefrologista do Hospital São José, Dra. Cassiana Mazon Fraga, o procedimento envolveu uma grande equipe multiprofissional, com duas cirurgias realizadas de forma simultânea. “Enquanto uma equipe fez a retirada do rim da doadora, a outra já preparava a receptora para o implante. Tudo acontece praticamente no mesmo tempo. O rim quase não fica fora do corpo e, por isso, a função costuma se restabelecer imediatamente. No dia seguinte, o órgão já estava funcionando normalmente, como se nunca tivesse parado”, explica.

Ela destaca ainda que este tipo de transplante é menos comum atualmente, porque Santa Catarina tem um número alto de captações de órgãos de doadores falecidos. “Mas, neste caso, a doação entre vivas foi fundamental. A receptora tinha características genéticas que dificultariam muito encontrar um doador compatível na fila. A doação direta da amiga foi a chance mais segura e rápida de ter uma vida nova”, explica.

O procedimento, o primeiro da região, também representou um marco para o serviço. “Além de toda a complexidade técnica, há um processo criterioso de autorização, com avaliação de comitês de ética, aprovação da Central Estadual de Transplantes e autorização judicial. Todo esse cuidado garante que o gesto de doação seja totalmente consciente e seguro para as duas partes. As duas evoluíram muito bem, a doadora já recebeu alta e a receptora segue conosco, em ótima recuperação”, afirma a médica.

Veridiane teve alta hospitalar nessa terça-feira, dia 11, e diz que voltaria a fazer tudo de novo. Ana, que precisará realizar um acompanhamento por mais tempo para garantir o sucesso da cirurgia, fala com gratidão sobre a amiga que virou parte dela. “Ela me devolveu a vida. Nunca vou conseguir retribuir um gesto assim, mas vou honrar cuidando bem desse presente”, finaliza.

 

Colaboração: Jéssica Pereira

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