“Um grupo tanto de meninas quanto de meninos ficava me chamando de `baleia¿, `rolha¿, `quatro-olhos¿ (quando comecei a usar óculos), mas isso era o de menos. Por mais que machucasse ouvir coisas assim, depois vieram as agressões mais físicas: chutavam minha lancheira, mochila, quebravam alguns materiais meus e um dia acabei apanhando de um desses grupos de meninas”. O depoimento de Mirela* denota a situação delicada de crianças e adolescentes vítimas de bullying.
Com o objetivo de incentivar o diálogo e o esclarecimento sobre o bullying, o MPSC realiza, desde 2023, a campanha “Bullying: isso não é brincadeira!”. A ênfase da iniciativa está na cultura do respeito e no combate aos preconceitos.
Neste domingo (20/10) começa uma série de postagens no Instagram do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) sobre o tema e reforçando a campanha. Você também pode conhecer mais detalhes da iniciativa clicando aqui. https://www.mpsc.mp.br/campanhas/bullying
Para o coordenador do Centro de Apoio Operacional da Infância, Juventude e Educação (CIJE) do MPSC, Eder Cristiano Viana, promover iniciativas de conscientização sobre o bullying é fundamental para construirmos uma sociedade mais justa e empática. “O bullying, muitas vezes visto como algo banal, pode deixar marcas profundas nas vítimas, afetando sua saúde mental e seu desenvolvimento social. Precisamos lembrar que essas atitudes não são apenas ‘brincadeiras’, mas ações que podem gerar consequências graves, como depressão, isolamento e, em casos extremos, até mesmo suicídio. Como Promotores de Justiça, temos a responsabilidade de apoiar iniciativas que promovam o diálogo, a educação e o respeito dentro das escolas e das famílias. Campanhas como essa não só ajudam a prevenir a violência, mas também empoderam as vítimas a buscarem apoio e estimulam os agressores a refletirem sobre suas ações”, explicou.
Sinais e consequências do bullying
A palavra bullying, de origem inglesa, é uma prática que compreende atitudes violentas e agressivas praticadas tanto dentro quanto fora da escola, inclusive no ambiente virtual. O bullying é praticado de maneira repetitiva em uma relação de desnível de poder. O intuito é humilhar e intimidar as vítimas, que podem sofrer consequências psicológicas e físicas. As pessoas que são alvo de bullying podem desenvolver baixa autoestima, depressão, isolamento, agressividade, fobias e falta de envolvimento com os colegas. Ainda que as consequências não cheguem a tanto, é certo o impacto nas capacidades e modelos de convívio em sociedade. Por isso esse fenômeno diz respeito a todos nós. Nesse cenário, é importante que crianças e adolescentes sejam incentivados a exercitar a tolerância e ter protagonismo no combate ao bullying. A psicóloga do CIJE Daphne de Castro Fayad ressalta que “cada vez menos estudantes se sentem à vontade no ambiente escolar. Os estudos que nos informam disso, mostram também que poucos pedem ajuda ou desabafam com adultos. A maioria dos que conseguem expressar seu sofrimento conversa com amigos. Isso significa que ações de prevenção e enfrentamento do bullying envolvem, necessariamente, o envolvimento de todos os estudantes do espaço escolar, e existem muitas metodologias disponíveis para ações assim, que privilegiam a participação do estudante. Estratégias assim, aliás, são um potente exercício de cidadania” O papel do exemplo dos adultos também é essencial para combater a prática. “é desde cedo que aprendemos a conviver com as diferenças. As crianças nos ouvem e nos observam. O comportamento social é aprendido pelo exemplo que somos, muitas vezes mais do que pelas explicações que damos às crianças. Precisamos estar também atentos aos preconceitos que alimentam as intimidações – aporofobia, racismo, capacitismo, etc – reconhecendo-os para desmontar essas situações de bullying.” Também é relevante que os pais e adultos fiquem atentos aos sinais de que a criança ou adolescente pode ser vítima de bullying. Alguns comportamentos que merecem atenção são falta de vontade de ir à escola, baixo rendimento escolar, isolamento de amigos e família, demonstração de tristeza, ansiedade, aflição ou agressividade e apresentação de ideias negativas sobre si mesma.
Caso uma criança ou adolescente identifique casos de bullying, é importante buscar a ajuda de adultos de confiança. Outra possibilidade é ligar para o Disque 100. Família e responsáveis devem ser presentes e participativos na vida escolar dos filhos, incentivando o diálogo e o estabelecimento de limites.
Em caso de bullying, busque auxílio especializado e a escola. Se as ações não forem efetivas, os adultos também podem buscar apoio no Conselho Tutelar e no Disque 100. Já as escolas devem ter regras claras de combate contra o bullying, desenvolver programas contra a prática e estimular discussões sobre o assunto entre pais, alunos e professores. Nem toda prática de bullying configura crime ou ato infracional (quando a ação é cometida por uma criança ou adolescente). Porém, situações mais graves, como ameaça ou dano ao patrimônio público ou privado, bem como agressão física, podem ser enquadradas dessa forma.
Quiz antibullying Conscientizar crianças e adolescentes em idade escolar a respeito do bullying, combatendo o fenômeno com as escolas a fim de diminuir o número de casos de evasão escolar, demandas de saúde mental e violência nas escolas. Esse é o objetivo do projeto “Quiz antibullying: uma proposta lúdica de enfrentamento ao bullying nas escolas”, desenvolvido pela Promotoria de Justiça de Pinhalzinho.
O projeto está sob responsabilidade da Promotora de Justiça Raquel Marramon da Silveira e conta com a parceria de escolas privadas, municipais e estaduais. Um jogo de perguntas e respostas trata de forma lúdica o tema do bullying no ambiente escolar, estimulando o engajamento dos alunos na dinâmica. Além disso, a iniciativa divulga a campanha “Bullying: isso não é brincadeira”, do MPSC, e promove o diálogo a respeito do tema, inclusive sobre o papel da instituição e a noção de responsabilização da criança e do adolescente. Neste ano, a iniciativa esteve presente na Escola Centro de Educação Objetivo, em Pinhalzinho, e na Escola de Educação Básica Rudolfo Luzina, em Nova Erechim. No total, 190 alunos participaram do quiz. Durante a atividade, os estudantes são divididos em grupos e respondem a diferentes questões sobre o tema. Nas dinâmicas já realizadas, muitos alunos informaram que não tinham conhecimento a respeito da possibilidade de procurar o MP para tratar de casos de bullying, que desconheciam as noções de ato infracional e de medida socioeducativa e que a dinâmica contribuiu para saberem o que fazer quando identificarem que um colega sofre bullying. |