Alexandra Cavaler
A limpeza do Rio Urussanga, uma novela antiga, parece ganhar novos capítulos. Em audiência realizada em Florianópolis, nesta semana, Casa Civil e Defesa Civil estadual, sinalizaram aos municípios compreendidos na Bacia do Rio Urussanga, um aporte de recursos para realizar a limpeza do rio.
Segundo o Coordenador Regional Defesa Civil, Rosinei da Silveira, a limpeza é um plano B uma vez que o desassoreamento envolve recursos substanciais não disponíveis no momento. “O projeto de desassoreamento há anos vem tramitando em busca de apoio, principalmente no governo federal, por ser bastante caro, mas muito necessário. Como essa proposta ainda não se concretizou nós, enquanto coordenadoria regional, as defesas civis dos municípios da Bacia do Urussanga, passamos, então, a agir num plano B para mitigar situações do risco hidrológico das inundações, alagamentos e enxurradas”, explicou.
Eduardo Guollo, vice-prefeito de Morro da Fumaça, que participou da reunião na capital catarinense, revelou que alguns estudos foram feitos, inclusive no final de 2023 ocorreu uma outra conversa com a defesa civil do estado e agora os recursos foram sinalizados. “O Estado sinalizou com o aporte de recurso para realizar uma limpeza do rio. Uma limpeza que vai começar da foz e vai subindo o rio retirando galhos e desobstruindo a passagem d’água. É claro que isso aí vai acontecer nos próximos meses, ainda tem toda a questão burocrática para realizar. Enfim, mas é uma forma paliativa que vai minimizar um pouco a questão das cheias aqui na nossa região. Eu falo especialmente aqui para Morro da Fumaça, porque sempre que chove todo mundo fica aflito, pois nós sabemos que o nível do rio sobe e alguns bairros do município acabam sofrendo com os alagamentos, famílias ficam desabrigadas, e empresas que param suas atividades por causa disso”.
Guollo ainda destaca que essa limpeza, mesmo que de forma paliativa, vai ajudar nesse momento. E é claro que depois também vamos tentar buscar a questão do projeto de desassoreamento que é mais complexo, com um valor mais alto, e que depende de vários agentes. O principal agora é a questão da limpeza, vai ser feita nos próximos meses, como eu falei, uma medida paliativa, mas de grande importância para nós, que sofremos muito com as cheias”, avaliou, acrescentando que a limpeza vai começar na foz, limite entre os municípios de Jaguaruna e Balneário Rincão, depois passando por Içara, Morro da Fumaça. “Lembrando que esse serviço terá um plano de trabalho elaborado e será acompanhado pelo pessoal do Defesa Civil”.
Estudo e plano de trabalho
Com o apoio do SAER, com o helicóptero, foi feito um sobrevoo que resultou num estudo, segundo Rosinei da Silveira, e posteriormente em planos de trabalho para os municípios envolvidos. “Então, em Florianópolis foi apresentado esse relatório e também os planos de trabalho, para que seja feita a limpeza emergencial e melhoramento da caída fluvial, utilizando uma máquina hidráulica, com capacidade de minimizar os impactos ambientais uma vez que o projeto visa isso, não desmatar, não mudar o curso de rio, apenas melhorar a calha fluvial, limpando todos os obstáculos que dificultam o fluxo do rio.
Vitor Dutra, coordenador da Defesa Civil de Içara, enfatiza que o rio é muito extenso e corta nove municípios somente na Região Carbonífera. “Juntos, realizamos um plano de trabalho à execução dessa limpeza, para que não ocorra, como em anos anteriores, alagamentos e inundações na região de Esplanada, em Içara, bem como Jaguaruna, Rincão e o Morro da Fumaça. Dessa forma, temos trabalhado em conjunto em todos os municípios, através do Colegiado Defesa Civil da Amrec, para que a gente possa executar essa atividade, consiga o recurso com o Estado. E a reunião da semana passada foi para dar mais um passo em direção a esse processo, e felizmente saímos com boas impressões de lá, e acreditamos que logo em seguida tenhamos boas notícias sobre essa situação”, avaliou. Em Urussanga, de acordo com Bruna da Fonseca, foram registrados 19 pontos a serem limpos, um deles já executado.
Empresários: prejuízos e soluções próprias
Wanderley Cechinel, empresário do ramo ceramista, diz que o problema com as cheias nas margens do Rio Urussanga é antigo, mas nota-se que está se agravando com o passar dos anos. “A pouco tempo atrás a água chegava na nossa empresa depois de uns três dias de chuva, hoje basta um dia de chuva forte para isso acontecer. Também é fácil notar que a água demora muito mais tempo pra baixar. E esse é um problema que afeta muitos municípios e por isso o desassoreamento é uma obra extremamente urgente pra região. O governo e os órgãos ambientais precisam encarar esse problema com urgência. Dinheiro que poderia estar sendo aplicado pelas empresas em investimento na região e gerando empregos, está sendo gasto para encarar as enchentes”, lamenta.
Ele também elenca os prejuízos com manutenção de bombas para retirada de água, energia com bombas ligadas, manutenção nos diques de contenção, adaptação de equipamentos elétricos para risco de enchente, dias parados por conta de enchente (no mínimo 20 dias no ano). “Entre despesas e perda de faturamento, um prejuízo aproximado de R$ 200 mil por ano. Além disso, as paradas de produção, danos em equipamentos industriais, impossibilidade de chegar na empresa em dias de maior cheia, inviabilidade de utilizar uma área maior do terreno da empresa. Atraso na produção por conta da água que verte nos canais e fornos, e por í vai”.
Cechinel ainda conta investiram num dique de contenção em volta de parte da empresa para segurar a água durante as cheias. “Este dique precisa de manutenção frequente porque a cada cheia ele fica um pouco deteriorando. Também temos que investir em bombas para retirar água de dentro da empresa durante os dias de chuva. Como o rio está cheio, o escoamento da água acontece muito lentamente e a água “verte” dos canais e dutos internos da empresa. Essas bombas tem que ficar prontas em vários locais da empresa. Outra medida preventiva é que todos os equipamentos elétricos precisam ser colocados em locais mais altos e com esperas para serem levantados caso o dique de contenção não suporte a cheia”.
Erik Seolin, do mesmo ramo empresarial, conta que não consegue mensurar o tamanho do prejuízo que as cheias, por falta do desassoreamento do Rio Urussanga, causa as empresas e agricultura das áreas que são mais baixas no município. “Ficamos sem acesso à empresa, enquanto a água não baixa a produção fica parada, sem venda e sem possibilidade de produção. Além de prejuízos como perda de estoque de produtos que ainda não foram para a queima. Difícil também para os colaboradores que muitas vezes perdem o pouco que tem (quando não há tempo hábil para remover os moveis). E ficam com receio de trabalhar em empresas que são atingidas quase que anualmente pelas enchentes. Nossa empresa no último ano fez uma barreira de contenção para evitar que a água atinja a cerâmica. Sendo que ano passado tivemos dois episódios de cheias se não me falha a memória”.
Natanael Frasson, também do ramo, revela que a situação é complicada. “Difícil até de mensurar a questão de prejuízos e de transtornos com nossos colaboradores que residem aqui nas dependências da empresa que perderam praticamente tudo, mas que o desassoreamento poderia ter evitado. Se não resolvesse no todo, mas 90% dos problemas. Inclusive, adotados algumas medidas reduzir os danos, mas são de baixa eficiência pela posição onde nos encontramos, às margens de valas e rios que desembocam no Rio Urussanga: aterramos e levantamos cerca de um metro todo o parque fabril, levantamos todas as casas, isso contando desde o telhado até o piso. Inclusive já contei dez casas novas e refiz a empresa, por causa das cheias. E se a enchente não for das maiores, a produção é interrompida por até 15 dias”.
Importância da obra é ressaltada
Questionada sobre a importância do desassoreamento do Rio Urussanga a prefeita de Içara, Dalvania Cardoso, disse que a obra é de fundamental importância para Içara por motivos de saúde e segurança pública, “já que o acúmulo de sedimentos no leito do rio aumenta o risco de inundações e coloca em risco a vida e o patrimônio dos moradores, além de causar a proliferação de doenças. É uma obra necessária, imprescindível para a região”. “Mitigação dos impactos das chuvas para a população, reduzindo drasticamente impactos econômicos, seja em residências ou em lavouras”, emendou o coordenador da Defesa Civil de Balneário Rincão, Paulo Amboni, sobre a mesma questão.
A chefe do Executivo içarense ainda assinalou que o município tem se empenhado ativamente na busca por recursos para viabilizar o desassoreamento. “Enquanto acontecem os esforços e a articulação junto ao Governo do Estado, destinamos recursos municipais, através da Defesa Civil, para realizarmos periodicamente a limpeza de todos os rios da cidade. É um serviço paliativo, enquanto aguardamos pelo definitivo, mas que já resultou em uma grande diferença em relação aos anos anteriores, principalmente nos dias de muita chuva”.
Quanto a Jaguaruna, hoje, o município é um dos mais atingidos, por ficar na parte da foz desse rio. Dessa forma, a água de outros municípios como Cocal do Sul, Treviso e Urussanga acabam desaguando em Jaguaruna e trazendo problemas. Os municípios mais afetados, segundo dados da assessoria da prefeitura, são Jaguaruna, Sangão e Morro da Fumaça. Sendo que somente Jaguaruna, tem mais de 1500 hectares impactados diretamente com o alagamento desse rio.
Fonte: Tribuna de Notícias