A cidade de Içara já foi considerada capital do fumo e do mel, contudo, já não ostenta esses títulos há vários anos. Mesmo sem a indicação, a expectativa dos técnicos da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) é de que as próximas safras, ainda em 2016, tenham resultados acima da média. Entre as culturas com maior área, estão o fumo, milho, feijão e o arroz, porém, os produtos orgânicos vêm ganhando cada vez mais adeptos e despontam como uma alternativa promissora.
De acordo com o engenheiro agrônomo Luiz Fernando Búrigo Coan, o preço do milho aumentou 100%. “A lavoura de milho deve crescer, porque o preço aumentou, pois a safra anterior foi 20% menor devido a problemas climáticos. Com isso, o milho atingiu valores muito altos”, explica. Segundo ele, a saca de 60 quilos era comercializada, em média, por R$ 25, mas chegou a valer o dobro. “Como além de vender, os produtores ainda utilizam o milho para alimentar seus animais, eles acabam guardando parte da produção para esse objetivo, e assim não precisam comprar. Porém, isso diminui ainda mais a oferta desse produto no mercado”, avalia.
O agrônomo explica que a área plantada nesta safra, entre agosto e outubro, além da safrinha, deve superar as plantações de feijão. “Temos previsão de primavera seca, com o fenômeno La Niña, mas devemos ter chuvas boas de fevereiro em diante. Assim, os produtores não devem ficar com receio de plantar o milho”, comenta. Ao contrário de anos anteriores, as lavouras não devem amargar prejuízos. “Tivemos alguns dias de frio intenso, mas não houve registro de grandes perdas no município. Também não houve infestações significativas ao ponto de comprometer a produção”, declara.
Além das culturas tradicionais, outras atividades têm ganhado força nos últimos anos. “Podemos destacar a criação de vacas leiteiras, a fruticultura e horticultura, que não ocupam grandes áreas, mas há muitos produtores que partiram para esse lado. Temos ainda o início de algumas pequenas plantações de soja, que está com um bom retorno econômico, além de ter um preço mais estável que o feijão”, salienta.
Mais saúde e renda
Com uma propriedade localizada na rodovia ICR-356, no bairro Vila Nova, em Içara, Vitor Soratto ainda era criança quando os pais plantavam fumo. Os problemas de saúde provocados pelos agrotóxicos necessários fizeram a família abandonar uma cultura tradicional e investir numa atividade pioneira na região: o cultivo de orgânicos. Hoje, o produtor, junto aos pais, coordena toda a plantação de morangos e diversas hortaliças, cuja produção tem venda garantida aos supermercados da região.
“O maior desafio são as pragas, pois não podemos usar nenhum tipo de herbicida, pesticida ou fertilizante químico”, conta. Segundo ele, praticamente todas as hortaliças podem ser produzidas de forma orgânica. “Este é um mercado muito promissor. As pessoas têm procurado cada vez mais os orgânicos, devido à preocupação com a saúde, além do sabor, que é muito melhor que os cultivados de maneira tradicional. Hoje temos certificação nacional, que garante que todos os requisitos são atendidos na propriedade”, ressalta.
“Nossos produtos são até mesmo indicados por médicos a pessoas que têm alergias a algumas substâncias utilizadas na produção comum”, afirma o agricultor, lembrando que os morangos que tornaram a propriedade conhecida nacionalmente ainda são o carro-chefe. “Ao mesmo tempo, temos diversificado a atividade, conforme a demanda do mercado”, conclui Soratto.
Especial Jornal Gazeta