Todos os meses, Valdeci Hipólito dos Santos acumula cerca de 250 pneus inutilizados em sua borracharia. Amontoados em fileiras, eles ficam embaixo de um espaço coberto, até que uma empresa responsável venha fazer o recolhimento. Mas, para isso, o empresário precisa desembolsar um dinheiro que, ao seu ver, é exorbitante.
“Se eu for fazer aqui em Içara, tenho que pagar R$ 4 por pneu para a empresa vir buscar. Tendo em vista que eu pago R$ 5 para montagem de cada um quando trazido pelo cliente, é um valor totalmente inviável. Eu vou ter lucro de apenas R$ 1 e não tenho como cobrar dos clientes esse acréscimo. Ou seja, para conseguir descartar esse material de maneira correta, tenho que gastar muito e não compensa o nosso trabalho”, relata.
A alternativa encontrada por Santos, foi contratar uma empresa de fora que cobra R$100 por mês para fazer o recolhimento dos pneus. Contudo, segundo ele, a preocupação com essa questão devia ser maior, já que quanto mais tempo estiver acumulado, mais chances da proliferação, por exemplo, do mosquito da dengue. “Minha preocupação não é somente com o valor que pago. A questão do meio ambiente é sempre a minha prioridade, tanto que armazeno os pneus de maneira correta e procuro sempre fazer o despache o mais rápido possível. Mas acho que isso é uma questão de saúde pública. Que deve ser abraçada pelo poder municipal”, sintetiza o borracheiro.
O sócio proprietário da Borracharia Borges, também de Içara, Jonata do Nascimento, compartilha da mesma ideia de Santos. Neste caso, ele paga R$ 380 por tonelada para uma empresa de Criciúma fazer a coleta dos pneus. “Acumulo cerca de 400 quilos por mês e tive que aumentar o meu espaço físico para esse armazenamento. Na rua não podemos deixar por conta da chuva que acaba enchendo esses pneus. Então tivemos que montar uma espécie de galpão, aqui dentro mesmo da borracharia para conseguir guardar tudo”, explica.
Projeto Municipal
Para os borracheiros, a Prefeitura Municipal deveria criar um projeto que auxiliasse no recolhimento desse material. Cedendo, inclusive, um espaço para que os pneus pudessem ser guardados. “Existe em Criciúma, em Arararangá, em Curitiba, menos em Içara. Nós não queremos que a Administração nos dê um galpão. Podemos nós, todos os borracheiros da cidade, montar um. Mas que nos ceda um espaço para isso e colabore com o transporte da borracharia para esse lugar. Nos cobrando um valor inferior, como é feito em Curitiba que é cerca de R$ 0,40. Isso é pensar no meio ambiente, na saúde pública, em Içara”, pontua Valdeci dos Santos.
Buscar novas empresas que realizam esse trabalho de recolhimento para a cidade, para os borracheiros, também ajuda a criar competitividade. “Içara conta com diversas borracharias, imagina toda juntas produzindo essa grande quantidade de pneu. Tem que ter uma preocupação da prefeitura, criar algum projeto para que nos ajude e também pensar em Içara e no bem comum”, acrescenta Jonata do Nascimento.
Um convênio está para ser aprovado na Câmara de Vereadores de Içara desde janeiro desse ano. É um projeto que cria uma parceria da prefeitura com a Empresa EcoPonto, especializada nesse tipo de trabalho. Segundo a gerente proprietária, Evelin Ugionne Daniel, não gera custo algum ao município, apenas ajuda na agilidade desse processo de trabalho.
“Hoje a EcoPonto está fechada porque precisamos de uma parceria. A recicladora, que faz o recolhimento desses pneus aqui na empresa, exige que exista um convênio com a prefeitura. Eles vem aqui na nossa porta recolher sem cobrar nada, apenas determina que exista esse cumprimento. Nós já enviamos um projeto para a Câmara, mas que até agora, não sei porque, não foi aprovado”, assinala.
Logística reversa: como funciona?
Pilhas e baterias, pneus, óleos lubrificantes e seus resíduos e embalagens, lâmpadas fluorescentes e produtos eletrônicos e seus componentes. Esses são os cinco materiais inclusos na Lei 12.305 (agosto de 2010), que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos no Brasil. Ela determina que a reponsabilidade do direcionamento dos resíduos sólidos e perigosos é inteiramente dos seus geradores. Ou seja, quem comercializa, quem importa e quem consome, deve realizar o descarte correto dos mesmos. Trata-se da logística reversa que, segundo o presidente da Fundação do Meio Ambiente de Içara (Fundai), Eduardo Rocha, não impõe à prefeitura a obrigatoriedade de arcar com despesas para convênios neste sentido.
“Não sou contra parcerias, sou favorável à elas desde que sejam feitas de maneira correta. Só não concordo que seja usado dinheiro público para essa finalidade, já que a responsabilidade do devido descarte desses materiais é de quem os utiliza. Podemos fazer um trabalho em conjunto em forma de conscientização e de orientação, sobre como e para onde despachar esses produtos”, explica.
Rocha diz ainda que precisa haver uma maior fiscalização a esse respeito. Já existe, inclusive, um objeto de apuração no Ministério Público de Içara que analisa especificamente a Política Nacional de Resíduos Sólidos. De acordo com a promotora Maria Cláudia Tremel, é um procedimento de 2010 que determina à prefeitura a criação de um plano. “É um procedimento em forma de oficio para o município a cerca da elaboração do plano de resíduos. Pelo contrato, esse prazo já teria ultrapassado no fim de 2013. Ou seja, a prefeitura ficou de apresentar um plano e não o fez e é a partir dele que poderá ser feita a fiscalização”, pontua.
Outros materiais
A preocupação com o descarte dos materiais, segundo o presidente da Fundai, não refere-se especificamente ao pneu. Segundo ele, a prefeitura chegou a realizar uma ação no Dia do Meio Ambiente, para a arrecadação de lixo eletrônico. A adesão, no entanto, ficou muito aquém do esperado.
“Muitas pessoas têm computadores, teclados, baterias e diversos outros produtos em casa que não estão mais usando, que são lixo, mas não sabem como fazer o descarte correto. Nós confeccionamos panfletos e distribuímos no comércio junto a uma ação que fizemos. Contudo, recebemos pouquíssimos materiais, nos surpreendeu porque achamos que teríamos grande adesão, o que não aconteceu”, lamenta Eduardo Rocha.
O presidente da Fundai explica ainda que a prefeitura realiza diversos trabalhos como forma de conscientizar e orientar as pessoas sobre essas e outras questões. “Implantamos, por exemplo, a coleta seletiva que tem apresentado resultados satisfatórios. Sabemos que a questão dos resíduos sólidos ainda deixa um pouco a desejar em Içara. Mas temos também as empresas que se responsabilizam em fazer esse trabalho corretamente. Há supermercados que atuam fazendo a lei da política reversa, assim como outras empresas. Só que, infelizmente, não temos como abraçar todas as causas. Imagina se a prefeitura tivesse que montar galpões para armazenar todos esses materiais das diferentes categorias? Seria uma custo altíssimo e acredito que todos devem e precisam fazer a sua parte. Nós estamos realizando tudo dentro do possível”, garante.
Especial Jornal Gazeta

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