Aos 82 anos, Zefiro Giassi, fundador do Giassi Supermercados em Içara, na década de 1960, garante que não pensa em sucessão. Está pleno de energia para superar mais uma crise – na década de 1990, outras piores foram ultrapassadas. Tanto é que mantém o plano de expansão, com novas lojas em Jaraguá do Sul e Itajaí, além do sonho em construir uma unidade na Ilha de SC. Segundo ele, esta é uma cobrança antiga dos clientes da região.
Quem era o modelo do senhor quando abriu a primeira loja, aos 20 anos? Em quem se inspirou pra abrir aquele negócio?
Zefiro Giassi – Na verdade, quando eu comecei no comércio, eu tinha apenas um objetivo: dar condições melhores para a minha família. Porque, durante os nove anos que trabalhei no magistério, embora gostasse demais da atividade, a remuneração era muito limitada. E a gente, com a família crescendo, queria poder deixar alguma coisa a mais para os filhos. Mesmo contra a vontade dos meus pais, abracei a causa do comércio. Acreditei que nessa função eu deveria vencer.
O senhor acreditava que um dia aquele pequeno negócio iria se tornar o que é hoje?
É, a gente iniciou pequeno, sem sombra de dúvida. Todo o dinheiro foi tomado emprestado, a juros que na época eram de 6% ao ano. Depois, nós experimentamos uma inflação galopante, de 80% ao mês. No começo, a gente vendia tecidos e ferragens. Mas eu não gostava muito de vender roupa, principalmente naquela época que era em metro. Então por isso, nós fomos mudando nosso segmento de produtos. Trabalhamos alguns anos com atacado abastecendo o pequeno comércio. E nós conseguimos, felizmente, chegar aos anos 1970. Observando toda evolução e o futuro do comércio do Brasil e do mundo, adotamos o sistema de autosserviço. Foi aí que iniciamos uma loja pioneira no município de Içara. O trabalho era bem diferente de hoje. Na época, o mercado não estava preparado para fornecer os produtos para esse modelo. Tínhamos que empacotar arroz, feijão, farinha de trigo e oferecer para o cliente. Recebíamos sacos de 60 quilos e nós distribuíamos em pacotes menores. A partir dali, com o comércio inovando, as próprias indústrias foram se adaptando.
Para montar o modelo de gestão da empresa, o senhor se inspirou em algum outro negócio?
Eu diria o seguinte: neste mundo pouco se cria, quase tudo se copia. Buscamos sempre o que os outros têm feito de melhor. Um modelo que sempre admiro e que busco aplicar no dia a dia é trabalhar com carinho. As pessoas você não fabrica. Acompanha e incentiva para ter uma equipe motivada ao lado. São elas que fazem a diferença. O que é produzido na indústria é mais mecânico, automático. São as pessoas que exigem mais cuidado e atenção.
O grupo tem 5,5 mil funcionários. Como fazer para que os valores cheguem a todos os funcionários?
A gente acredita nas pessoas. Temos muita gente com mais de 30, 40 anos na empresa, que sempre viveram com a história da companhia. Eles sabem que o consenso, a motivação, o diálogo, é sempre a melhor maneira pra resolver situações. Esses conceitos a gente procura divulgar no trabalho. É um entendimento pessoal que ajuda a manter esse procedimento também.
O senhor trouxe características da própria personalidade para o negócio. Deu certo?
A gente sempre procura ser exemplo de simplicidade. Acho que ninguém é mais do que ninguém. A valorização do ser humano é importante. Colocamos como exemplo a valorização de uma pessoa que trabalha na limpeza. Ela é tão importante quanto aqueles que estão na linha de frente. Cada um na sua posição, valorizando as pessoas. Queremos manter esse sistema de trabalho. Aquele que desenvolve com carinho a função, não importa o que faz, passa a ser um dos mais importantes na companhia.
A administração é centralizada em Içara?
Aqui em Içara fica a central, o setor administrativo e o centro de distribuição. A diretoria está focada aqui, o pessoal de recursos humanos também.
A empresa teve que se reestruturar na crise?
Nosso propósito foi não demitir ninguém. Isso entre aspas, porque nós continuamos com nosso processo normal de demitir quem for improdutivo. Mas não houve cortes grandes. Nosso foco foi tornar a empresa mais eficiente em todos os processos: reduzir despesas ao máximo que pudermos. Porque ao simplesmente aumentar a margem de lucro, no outro lado, temos o cliente que também sofre com a economia atual.
Deu para sentir uma queda no consumo?
Creio que não há nenhum segmento que não tenha sofrido mudanças com essa crise atual. O próprio consumidor tem um comportamento diferente na aquisição dos produtos: eles buscam sempre algo que possa atender as necessidades diminuindo a fatia consumida da renda, com produtos de menor valor agregado. Com toda certeza nós pensamos mediante essa situação econômica, que não é a pior que o Brasil já passou. Superamos outras mais difíceis. Acreditamos que a economia vai voltar a crescer e vai sobrar tempo para ganharmos dinheiro. Então hoje, com toda certeza, nosso sacrifício com as margens – pois os custos subiram – faz parte da contribuição que todo cidadão brasileiro, todo empresário, pode dar para ajudar na superação do cenário que estamos passando.
Mas a crise não está impedindo os investimentos. Estão planejadas duas novas unidades, em Jaraguá do Sul e Itajaí, correto?
Toda empresa que quer se manter de pé jamais pode parar. Lógico que o ritmo pode ser reduzido um pouco. Mas você não pode estacionar o planejamento de crescimento. As lojas já estão sendo analisadas com o plano diretor de cada cidade. Vamos iniciar as obras assim que for liberado. As lojas, com todos os equipamentos, nunca saem por menos de R$ 30 milhões. Talvez R$ 40 milhões cada loja.
A empresa tem planos para sair de Santa Catarina. Quer ter unidades em outros Estados?
Sou filho de Içara. Aqui comecei meus trabalhos. Nunca foi necessário sair daqui pra continuar crescendo. Costumamos brincar sempre que só saio daqui se me expulsarem. Em relação à expansão das lojas, inicialmente não há planos de sair de SC porque aqui temos espaço para crescer. Acho que, ao ficarmos focados só no Estado, conseguimos acompanhar melhor o negócio, conhecer os colaboradores, trabalhar melhor juntos. Pode ser que em outro momento essa mudança possa se tornar oportuna. Nosso objetivo não é ser maior que ninguém. O que queremos é sempre manter nosso crescimento, acompanhando-o de perto. A grandeza não é importante. A qualidade é muito mais importante que o tamanho.
Colaboração: Agência RBS/Foto: Içara News