terça-feira, 4 novembro, 2025
Ultimas noticias

Pequena, silenciosa e perigosa: os riscos da picada da aranha-marrom

Espécie que habita ambientes urbanos e pode representar risco grave à saúde humana - Foto Sari ONeal - Shutterstock.com

Por Alexandra Cavaler

 

Discreta, de hábitos noturnos e geralmente invisíveis aos olhos até que o problema ocorra: assim é a aranha-marrom (Loxosceles), espécie que habita ambientes urbanos e pode representar risco grave à saúde humana. Apesar do tamanho pequeno (cerca de 1 a 4 centímetros) e aparência inofensiva, sua picada é uma das mais perigosas entre os aracnídeos encontrados no Brasil.

A presença da aranha-marrom em residências e ambientes urbanos tem crescido, impulsionada por alterações ambientais e redução de seus habitats naturais. Com isso, crescem também os registros de acidentes, especialmente no sul e sudeste do país. Mas quais os riscos reais da picada? Como identificar o animal? E, acima de tudo, como se proteger?

 

Efeitos do veneno e riscos à saúde

De acordo com Mainara Figueiredo Cascaes, bióloga, professora e pesquisadora da Unesc, os principais riscos à saúde causados pela picada da aranha-marrom incluem lesões cutâneas graves (necrose), reações inflamatórias e, em casos mais severos, comprometimento sistêmico, como insuficiência renal aguda. O maior perigo da aranha-marrom está em seu veneno, que possui enzimas altamente tóxicas.

“O veneno contém enzimas que desencadeiam necrose tecidual e inflamação local. Em alguns casos, ele pode atingir a corrente sanguínea, provocando efeitos como falência renal. Os riscos mais comuns envolvem lesões cutâneas graves, com necrose que pode se expandir. Geralmente há dor discreta no início, seguida por vermelhidão, inchaço e formação de uma bolha. Com o passar das horas, pode surgir uma necrose inicial. Febre, mal-estar e urina escurecida, podem surgir em casos mais graves levando, embora seja raro, à morte. Isso ocorre principalmente quando há evolução para loxoscelismo sistêmico, com hemólise grave, insuficiência renal ou sepse”, explica Mainara.

 

Sintomas: atenção nas primeiras horas

As manifestações clínicas costumam se iniciar de forma discreta. A dor no local da picada pode ser leve, o que muitas vezes atrasa a busca por atendimento médico. Entre seis e doze horas após o acidente, a região começa a apresentar vermelhidão, inchaço e formação de bolhas. Em seguida, a necrose da pele pode evoluir, formando uma ferida escura e profunda, com aspecto ulcerado. “Como já mencionado, nos quadros mais sérios, surgem sintomas sistêmicos, como febre, calafrios, dor muscular, urina escurecida (indicando hemólise), vômitos e mal-estar generalizado. Esses sinais costumam se manifestar entre 24 e 72 horas após a picada”.

 

Casos graves: quem corre mais risco?

Embora a letalidade da aranha-marrom seja considerada baixa, ela não pode ser subestimada. Crianças pequenas, idosos e pessoas com o sistema imunológico comprometido são os grupos mais suscetíveis às formas graves de envenenamento, conhecidas como loxoscelismo sistêmico. “Nessas populações de risco, o veneno se espalha com mais facilidade pelo organismo. O menor volume corporal e a dificuldade em reagir às toxinas tornam o quadro mais perigoso”, alerta a profissional, acrescentando: “Em casos graves, o paciente pode desenvolver insuficiência renal, anemia hemolítica severa, infecções secundárias e coagulação intravascular disseminada — um quadro clínico grave que pode levar à morte”.

Sobre o tratamento a bióloga revela que existe soro antiloxoscélico, porém seu uso é restrito a unidades de saúde. “Em casos de acidentes com animais peçonhentos é sempre recomendado buscar atendimento médico. E após uma suspeita de picada a orientação é: lavar o local com água e sabão, evitar medicações caseiras, manter a vítima em repouso e procurar atendimento médico imediatamente. Se possível, fotografar a aranha para auxiliar a identificação”.

 

Ao identificar uma possível picada:

Lave o local com água e sabão;

Evite espremer ou aplicar substâncias caseiras;

Mantenha a vítima em repouso;

Dirija-se imediatamente à unidade de saúde;

Se possível, capture ou fotografe o animal para ajudar na identificação.

 

Hábitos domésticos e a prevenção

-Manter armários e gavetas organizados;

-Sacudir roupas, sapatos e roupas de cama antes de usar;

-Evitar empilhar caixas de papelão;

-Vedar frestas e buracos;

-Fazer limpeza frequente em cantos escuros e pouco usados.

 

Identificação

Foto: Pinteres

“Ela pode ser confundida com aranhas domésticas inofensivas. A Loxosceles é discreta, tem coloração marrom uniforme e um desenho em forma de violino no cefalotórax, característica marcante da espécie, o que ajuda na identificação. Além disso, a prevenção, a atenção aos detalhes do ambiente e a adoção de hábitos simples são as melhores estratégias para manter sua casa longe de riscos invisíveis”, destacou a profissional.

 

 Ambientes que favorecem a presença da aranha

A aranha-marrom prefere locais secos, escuros e com pouca movimentação como porões, sótãos, armários, gavetas, atrás de móveis, roupas guardadas, caixas de papelão e calçados esquecidos. Costuma se esconder durante o dia e sair à noite para caçar pequenos insetos. Apesar de ser encontrada com mais frequência em áreas urbanas, sua presença tem relação direta com a degradação dos ambientes naturais, forçando o animal a procurar refúgio em construções humanas. “Essas aranhas não atacam espontaneamente. Elas picam apenas quando se sentem ameaçadas, como quando alguém veste uma roupa ou calçado onde ela está escondida. Por isso, reduzir os locais de abrigo e monitorar os ambientes são estratégias eficazes de convivência segura”, explica Mainara Cascaes.

 

Inseticidas

Ainda segundo a bióloga da Unesc, inseticidas domésticos têm baixa eficácia contra essa espécie. “Inseticidas comuns têm baixa eficácia, especialmente por aranhas não serem insetos. Como a aranha-marrom se esconde em locais de difícil acesso e tem hábitos noturnos, o controle químico só funciona se combinado com medidas de limpeza e manejo ambiental”.

 

 

Colaboração: Jornal Tribuna de Notícias

 

 

 

Gostou da notícia então compartilhe:

Facebook
Twitter
WhatsApp
Telegram

Mais lidas da semana

Noticias em destaque

Noticias

Outros links uteis