Por Alexandra Cavaler
Araranguá/Imbituba
Santa Catarina é um dos principais locais de reprodução das baleias francas. Durante os meses de inverno e primavera, especialmente entre junho e novembro, as fêmeas se deslocam para essas águas mais calmas e quentes para dar à luz e amamentar os filhotes. Mas isso também traz dados negativos uma vez que com o aumento populacional de algumas espécies, também vem crescendo o número de encalhes e óbitos. E esse é um assunto preocupante e pode ocorrer por diversas razões.
Suelen Santos, bióloga, coordenadora de pesquisa e presidente da ONG Educamar de Araranguá, dá algumas explicações sobre o assunto. “Nesta época do ano ocorrem as temporadas migratórias de baleias, pinguins, lobos e leões marinhos. Houve um aumento populacional de algumas espécies de baleias como as Francas e Jubartes, devido ao trabalho de conservação e pesquisa de pesquisadores que atuam para proteção. Contribuindo, então, para aumento populacional e também para maior número de encalhes. Inclusive, neste ano, até o presente momento houve nove registros de encalhes de baleias Franca, Bryde e Jubarte, em Santa Catarina, todos em óbito. O último deles, de uma Baleia-de-bryde, no município de Balneário Gaivota”.
Já Karina Groch, bióloga e diretora de pesquisa do ProFranca/Instituto Australis, acrescenta que as mortes das baleias e golfinhos ocorrem quando os animais estão doentes e a maré os traz até a praia, já mortos “ou muito debilitados e em seguida eles morrem. Pode ocorrer também por causas antrópicas, ou seja, relacionadas às ações humanas, como por uma colisão com uma embarcação ou pelo emalhamento em artefatos de pesca (redes e similares)”.
A profissional também ratifica os dados da bióloga da Educamar e dá mais detalhes. “É importante levar em consideração que com o aumento populacional e a recuperação das espécies de baleias de nosso litoral, especialmente das baleias jubarte, é natural que aumente, na mesma proporção, o número de encalhes. Lembrando que a caça reduziu em muito o número de várias espécies de baleias aqui na costa brasileira e no sul do Brasil, especialmente de baleias-francas. Agora que as populações estão se recuperando a tendência é ter um número maior de baleias vivas e de baleias encalhadas. Esse é um dos maiores desafios que temos acompanhado e monitorado, para saber se os encalhes são por causas naturais ou se são decorrentes de causas antrópicas, para propormos aos órgãos ambientais, as medidas adequadas, as melhores medidas para a conservação dessas espécies”, ressaltou Karina.
A diretora de pesquisa do ProFranca ainda conta que nesse ano foi verificada uma grande quantidade de baleias-francas vivas no litoral catarinense. “Já foram pelo menos cinco filhotes de baleias-francas que vieram a óbito, além de uma baleia adulta que foi avistada nos últimos dias, na região sul do estado e que estamos aguardando que ela encalhe em alguma praia, para tentar fazer a necropsia e descobrir a causa da morte”.
Biometria, necropsia e coleta para análise da causa da morte
As especialistas também foram questionadas sobre a remoção dos cetáceos, das faixas de areia, após a morte, uma vez que se trata de um animal de grande porte. “Cada situação é analisada pelas equipes que fazem parte do protocolo de encalhes de animais marinhos. Se o animal está em local de fácil acesso, por exemplo, a maré baixa e que permita o acesso de profissionais para avaliação da causa da morte é feita, então, a biometria do animal, necropsia e coleta para análise da causa da morte. Já o indivíduo que se encontra em óbito no mar, é necessário aguardar até que a maré empurre o indivíduo para faixa de praia”, disse Suelen, revelando que na região, após a análise da causa do óbito do animal, a carcaça fica à disposição do município em que o mesmo encalhou para posterior enterro. “O local é pré-definido pela secretaria de meio ambiente junto das equipes de projetos de monitoramento que atenderam o encalhe”.
Atendimento e monitoramento
Na região Sul de Santa Catarina, os encalhes são monitorados pelas instituições que fazem parte do protocolo de encalhes da Área de Proteção Ambiental da Baleia-Franca, principalmente no território da APA, que vai do sul da Ilha de Santa Catarina (Florianópolis) até o Balneário Rincão. O Instituto Australis também faz parte do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP), que é um condicionante para o licenciamento ambiental federal exigido pelo Ibama para que a Petrobras possa explorar petróleo e gás da Bacia de Santos (SP).
O PMP atua de Laguna para o norte, e sempre que ocorrem encalhes nessa região os mesmo também são atendidos e monitorados pelo PMP. Ao sul de Laguna, esses atendimentos são feitos por instituições locais, dependendo da área. “O monitoramento e o atendimento são para tentar descobrir e entender as causas desses encalhes e nós também monitoramos a ocorrência das baleias vivas, porque a partir daí conseguimos estabelecer uma relação entre a quantidade de baleias que vem para o nosso litoral e a quantidade de baleias que encalham, para tentarmos entender essa relação, se é realmente um número muito alto”, assinalou Karina.
Ela também conta que a equipe está aguardando as condições do tempo para fazer o principal sobrevoo de monitoramento das baleias-francas dessa temporada, e aí verificar se o número de encalhes está dentro da média ou se é um número atípico, “enfim, saber o que está acontecendo com esses animais. Lembrando que em todos os anos registramos ainda o número de encalhes de outras espécies de baleias que ocorrem aqui na região ou de espécies que têm hábitos oceânicos e que acabam, por algum motivo, vindo a óbito e a maré as traz ao nosso litoral. Em todas as ocorrências, quando é possível, tentamos fazer necropsia, e se o animal está com a carcaça fresca, temos a oportunidade de tentar entender a causa do encalhe e aí tomarmos as medidas apropriadas, caso necessárias”, esclarece a diretora de pesquisa do ProFranca.
Destino das carcaças
Após a realização da necropsia e coleta de amostras as carcaças podem:
– Ser enterradas (ou deixadas) no próprio local do encalhe para que sejam “reabsorvidas” pela natureza e completar seu ciclo;
– Ser descarnadas para aproveitamento do esqueleto para fins científicos e/ou educativos;
– Ser levadas para incineração ou aterros sanitários.
Temporada Reprodutiva
(fonte: ProFranca/Instituto Australis)
A temporada reprodutiva das baleias-franca vai de julho a novembro, com pico de ocorrência em setembro. No final do verão, elas deixam as áreas de alimentação nas latitudes mais frias e buscam as regiões costeiras onde se concentram para o acasalamento, a parição e amamentação dos filhotes nascidos no ano subsequente à fecundação. Na costa do Brasil, tal área deve ter atingido em períodos históricos desde a divisa com o Uruguai no Arroio Chuí até pelo menos a Baía de Todos os Santos. Atualmente, a área de concentração restringe-se à Região Sul, com registros de alguns indivíduos efetuando-se, regularmente, ao longo dolitoral Sudeste e no Banco dos Abrolhos (BA) pela equipe de pesquisa do Instituto Baleia Jubarte.
Estima-se que a gestação da espécie esteja em torno dos 12 meses, que corresponderia à sazonalidade de sua migração de retorno às áreas de reprodução, onde permanecem no inverno e primavera. As fêmeas e seus filhotes permanecem em zonas costeiras de pouca profundidade até o final da temporada reprodutiva. No Brasil, estudos recentes realizados por pesquisadores do Projeto Baleia Franca indicaram uma maior abundância de baleias em profundidades de até 10 metros. Alguns filhotes passam todo o ano seguinte ao nascimento na companhia da mãe, separando-se desta somente no retorno à área de reprodução. Nas primeiras semanas de vida, o filhote passa cerca de 90% do tempo no entorno imediato da mãe, e apenas no final da temporada de inverno de seu nascimento passam a distanciar-se mais desta, explorando de forma mais independente o ambiente das proximidades; os filhotes de um ano, que retornam com a mãe para as áreas de reprodução, desligam-se dela nesta fase, com a mãe aparentemente tomando a iniciativa de afastar-se do filhote que então já é funcionalmente independente.
Colaboração: jornal Tribuna de Notícias