Das fachadas que sinalizam as mais simples lojas aos letreiros enormes de estabelecimentos de alto padrão, todos têm algo em comum: o grafismo das letras que as diferenciam umas das outras. E foi explorando esse universo antigo, mas ainda pouco notado, que dois criciumenses produziram o livro “Pintores de Letras: uma viagem pela cultura popular e memória gráfica de Santa Catarina”. A obra é assinada pelo designer Rafael Hoffmann, de 42 anos, e pela publicitária Nicole Castro, de 31, e foi financiada pelo Prêmio Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura de 2023, da Fundação Catarinense de Cultura (FCC).
O livro surgiu como uma extensão do projeto Pintores de Letras, que iniciou em 2016 como um registro fotográfico dos letreiros populares do sul de Santa Catarina. A obra impressa, lançada em janeiro de 2025, tem foco nos designers e publicitários, além dos apreciadores da cultura popular, unindo história, técnica e memória visual, buscando valorizar o trabalho dos pintores letristas.
“Tivemos apenas um ano para visitar todas as regiões do estado. Percorremos mais de 4 mil quilômetros e visitamos algumas das principais cidades, como Florianópolis, Chapecó, Lages, Joinville, Blumenau, além de Criciúma”, conta Nicole, que acrescenta que antes de visitar as cidades, ela e Hoffmann realizaram buscas por profissionais das respectivas regiões e utilizaram aplicativos, como o Google Street View, para procurar por muros e cartazes pintados que tinham a assinatura dos pintores. Essa peregrinação em território catarinense culminou no resgate de mais de 400 fotos de 30 cidades do estado.
Durante a produção do livro, houve uma mudança de rumo. Os dois autores acreditavam que a obra seria mais técnica e focada no design gráfico, mas a progressão das pesquisas e as entrevistas com os letristas mostrou algo diferente. “Entendemos que ele é um livro sobre cultura popular brasileira, mesmo com um recorte regional. Mas, principalmente, é um livro sobre pessoas, sobre os pintores letristas”, enfatiza Hoffmann. “Uma das coisas que sempre nos moveu nesses quase dez anos de projeto foi poder dar visibilidade e contar a história de quem faz a comunicação visual popular que encontramos hoje nas cidades catarinenses. Então o coração do livro são as 20 entrevistas que realizamos com os profissionais que conhecemos ao longo das nossas viagens”, acrescenta.
Além da pesquisa histórica, buscando os registros dos primeiros pintores do estado, Nicole e Hoffmann apresentam conceitos básicos que guiaram a pesquisa e reservaram espaço para discutir assuntos relevantes e atuais, como a importância das redes sociais para a valorização do trabalho dos pintores letristas e da estética popular brasileira, apropriação cultural e leis de regulamentação de comunicação visual nas cidades.
Como adquirir?
O livro “Pintores de Letras: uma viagem pela cultura popular e memória gráfica de Santa Catarina” já está disponível no site do projeto (https://pintoresdeletras.com.