A nossa vida é repleta de transformações, todos temos perdas, ganhos e separações. Casamento e divórcio também são uma dessas etapas, que implica em uma adaptação de ambas as partes envolvidas, sendo necessária uma mudança de hábitos do casal, pois estão entrando em uma nova etapa, onde ocorrerão mudanças em suas rotinas e também na questão dos seus valores.
Nem sempre o motivo que leva as pessoas a se casarem ou a permanecer na união do casamento é o amor, diversos outros fatores implicam nessa decisão. Enquanto uns decidem que a melhor atitude a se tomar é a separação por acreditarem que as dificuldades são insuperáveis, outros preferem arrastar um casamento e uma vida toda com uma infelicidade crônica. Muitos casais não conseguem se separar de forma civilizada, carregando consigo sentimentos de ódio, culpa, remórcio e/ou acusações, afinal, sabemos o quão difícil é perceber e assumir a responsabilidade de cada um no relacionamento e também no seu término.
O momento mais difícil é logo após a separação, cada pessoa reage de uma forma, muitos se surpreendem ao deparar-se com sentimentos negativos, atordoados pela falta que o parceiro faz. Algumas pessoas tentam convencer a si mesmas de que "não estão nem aí", uns tentam se reorganizar, outros se afundam em profunda depressão, outros apenas optam por ficarem sós. Independentemente do modo que cada um escolhe seguir sua vida, algo de bom existiu ou existe, é ai que surge o luto pela perda das coisas boas e de tudo aquilo que poderia ter sido, mas não foi.
Assim como o casamento envolve mudanças na rotina de cada integrante, a separação também, principalmente no relacionamento com a família e amigos, e em especial quando existem filhos na relação, nos valores pessoais e também nas prioridades de vida.
Algumas pessoas levam a separação como algo positivo, um ‘‘renascimento”, sobretudo quando no casamento a pessoa renunciou a muitas coisas importantes. As pessoas que convivem com o casal em muitos casos tentam agir como "mediadores", tentando promover a reconciliação e outros apoiam a separação.
É comum que os filhos dos pais separados sejam alvo de descarga da irritação e da frustração deles, podendo inclusive apresentar sintomas e alterações de conduta durante um tempo, até que um novo equilíbrio seja alcançado. Hoje em dia é freqüente essa recomposição familiar, onde os casais se separam e cada um segue um novo relacionamento com outra pessoa, constituindo assim uma nova família.
Com tantas atribulações ocorridas após a separação muitas pessoas relatam que o tempo voa, duas semanas acabam equivalendo a dois anos. Também difere a percepção de si próprio no espaço, no auge da crise há a sensação de estar “no ar”, desligado do concreto, do cotidiano. Para algumas pessoas diminui a capacidade de trabalho, isso ocorre em decorrência da ansiedade, do desânimo ou da confusão, por outro lado, existem pessoas que mergulham de cabeça no trabalho como uma “válvula de escape” nos momentos de maior tensão.
Mas então, como lidar com a separação? Bem, é preciso que a mudança deixe de ser sinônimo de catástrofe e passe a ser menos temida, transformando-se em oportunidade, em perspectivas de passar para algo novo, com maior força interior.
E como evitar a separação? É importante ter em mente que em alguns casos a separação é necessária e se torna a melhor opção, no entanto, para termos um relacionamento saudável e duradouro é importante não entrar no casamento com expectativas, ideias e esperanças grandiosas demais para serem preenchidas pelas possibilidades reais do convívio, pois um dos motivos mais comuns do término do casamento é a diferença de expectativas. É necessário haver um ajuste gradual entre o que se espera e o que pode ser efetivamente alcançado, caso contrário se instala a desilusão e a infelicidade.
Outro tipo de contrato que acaba resultando em acúmulo de cobranças e exigências é o pseudo-autruísmo, a necessidade de que o outro precise da gente, aparentar total disponibilidade, encobrindo a exigência de retribuição em termos de gratidão e dependência. O parceiro passa a se sentir aprisionado e oprimido, muitas vezes sem saber o porquê.
Existem também casais que vão levando um casamento aos “trancos e barrancos”, vão remendando aqui e ali os problemas que surgem. Às vezes isso acontece quando se começa um casamento com pouca base e baixas expectativas, então a base inicial mal consegue sustentar, este também não é o melhor caminho. Importante lembrar também, que a falta de conversa e de esforço conjunto para melhorar ou revitalizar o casamento faz com que muitos casais tenham vidas separadas dentro da mesma casa. Por isso, casamento nem sempre é sinônimo de felicidade, e separação nem sempre é sinônimo de infelicidade.
Deixo então algumas dicas para você que está vivenciando uma separação ou em dúvida de qual o melhor caminho a ser tomado: primeiramente assuma a responsabilidade, questione-se: “de que jeito eu contribui para criar essa situação?”, é isso que leva à reflexão e à ação que possibilita a mudança.
Se vocês ainda estão juntos e em dúvida sobre qual decisão tomar, uma alternativa é buscar a psicoterapia de casal, assim vocês irão clarear o que um faz com o outro, o que um projeta de si mesmo no outro e vão havendo mudanças na maneira de ambos lidarem com as situações conflitivas. Informe-se sobre grupos de casais, ouvir o ponto de vista de outros casais e trocar experiências também pode ser muito útil.
Por fim lembre-se: “Muitas vezes é preciso saber perder o outro para ganhar-se, recuperar os aspectos de si mesmo depositados no parceiro, em especial quando a pessoa não construiu uma identidade própria, se viveu à sombra do parceiro, sem se firmar com os próprios pés.” (MALDONADO, 2000, p. 135)
Sarahuana Lourenço
Bacharel em Psicologia e Psicoterapeuta Corporal – CRP 12/14609