Por Alexandra Cavaler
Enfrentar dificuldades, todos nós enfrentarmos. O que difere uma pessoa da outra é a maneira com que as mesmas lidam com as situações adversas que a vida lhe apresenta. E assim também ocorre quando o assunto voltado à saúde. Esse é o caso de Rosangela Valim, de 44 anos, mãe de duas filhas (23 e 17 anos) e inspetora de qualidade no setor têxtil, que ao descobrir o câncer de mama, em dezembro de 2021, teve o impacto do diagnóstico, mas reuniu forças, colocou um lindo sorriso no rosto e enfrentou a doença.
Foram dois tumores na mesma mama. Ela ainda segue em acompanhamento médico, mas encerrou as sessões de quimioterapia em agosto de 2022. Na terça-feira, dia 17, ele teve um dos retornos periódicos ao mastologista e comemora mais um passo avançado. “Quando descobri, logo fiz um exame para saber se o câncer era agressivo e como poderia ser meu tratamento. Graças a Deus descobri no início e pude fazer a cirurgia. Também pensei que com a descoberta cedo que não precisasse passar por quimioterapia, mas não foi assim”, relatou.
Rosangela também revela que logo após a biopsia dos linfonodos veio a notícia de que teria que passar não somente pela quimioterapia (oito sessões), mas também por radioterapia (cinco sessões). Ela ainda ressalta a importância do apoio mutuo entre as pacientes. “Na quimioterapia conhecemos muitas pessoas, entre elas umas que perdemos na caminhada e outras que mantenho contato até hoje. Nos tornamos apoio uma da outra e posso garantir que isso foi fundamental. Vejo que a conexão que adquirimos depois de passar por isso é enorme, e que quando alguma mulher sentir que algo de errado está acontecendo deve procurar ajuda e tentar conversar com alguém que já passou por essa situação, ou seja, é muito importante apoiar, escutar, dar força e saber que não estão sozinha nessa batalha”, enfatizou Rosangela.
O tratamento da inspetora de qualidade segue com tamoxifeno por um período de cinco anos. Ela fala das limitações do corpo e da vontade de viver. “A cada ano uma vitória, mas a cada volta ao médico e exames vem a angústia. A vida não segue igual. Hoje tenho minhas limitações devido à medicação e ao tratamento, o corpo é mais cansado, não reage como antes, mas a vontade de viver e muito maior. E por isso vejo a vida de outra forma, sigo na fé e acreditando que tudo tem seu tempo e um significado”, assinala.
Como forma de detalhar sua experiência e de mostrar para outras mulheres que antecipar o tratamento, fazer o exame de toque, e saber que não estão sozinhas, é importante, Rosangela deixa um recado: “Entendo, hoje, que precisamos alar muito mais sobre esse assunto. Não só em outubro, mas em todos os meses para que seja precoce o diagnóstico; e por mais dolorido que seja que o processo seja vitorioso, pois é o que queremos. Claro que nada disso é fácil. Todas as vezes que tocamos nesse assunto, que nos lembramos do processo, é dolorido. E cabe lembrar que cada uma teve sua vivência. A descoberta é dolorida, a primeira quimio, a queda de cabelo, até o processo do pós-câncer, mas ainda assim temos o compromisso de contar nossa vivência para que outras mulheres conheçam nossas histórias e saibam que se tiver que passar por isso, não estarão sozinhas. A gente acaba adquirindo e se tornando uma grande rede de apoio”, concluiu Rosangela.
Prevenção é adotar atitudes de saúde mental, física e alimentar
O doutor Adriano Cartaxo Semeralado, Mastologia Clínica e Cirúrgica, fala sobre prevenção e descoberta inicial de nódulos na mama para a eficácia do tratamento. Ele ainda destaca um conjunto de atitudes a serem adotadas como prevenção. “ A gente pensa em prevenção precoce, quando tomamos atitudes de saúde mental, física e alimentar, no sentido de evitar o consumo exagerado de alimentos ricos em carne vermelha, gordura de origem animal, industrializados no geral, seja em enlatados, derivados ou em embalagem tetra pak. A gente tem como atitude também consumir mais alimentos ricos em peixes, pelo ômega e proteção habitual e por ser mais leve. Além de aumentar a ingestão de frutas, verduras e cereais, que também trazem a nós uma saúde mais adequada, pois consumos exagerados de carboidratos também pode determinar uma piora nesse estado”, explica.
O especialista ainda ressalta que a associação com o álcool de forma inadequada pode aumentar o risco de câncer de mama e também o consumo de fumo. “Alguns parâmetros também de detecção precoce como a realização de exames periódicos a partir dos 40 anos de idade, que é a mamografia de base, pois isso pode reduzir em 30% a mortalidade por câncer de mama, por ser um fator de descoberta precoce. Sempre lembrar que a rotina de realização anual a partir dos 40 anos também vai ajudar nesse sentido, e quanto mais precoce no sentido de a gente pegar uma doença menor que um centímetro, a resposta em termos de prognóstico futuro é quase 95% de cura, dependendo do tipo de câncer que tu tens”, ressalta o mastologista. Ainda segundo ele, hábitos de vida saudável contínuos reduzem a mortalidade em 20% por câncer em geral.
Entre os métodos de diagnóstico o doutor Cartaxo elenca a mamografia, que é o mais fácil, o mais comum, de acesso rápido em toda a rede pública e convênios particulares. “É um método que deve ser realizado uma vez ao ano, de preferência após a menstruação, para diminuir o estímulo de dor. Complementar a eles tem a ultrassonografia, que nos dá dados adicionais quando temos dúvidas sobre o que percebemos mamografia e, em alguns casos pontuais, a gente tem a ressonância.
Sobre a resposta aos tratamentos, o médico diz que isso está relacionado ao tamanho do nódulo e o estágio da descoberta do mesmo. “A eficácia do tratamento do câncer de mama é vinculada a quão precoce você procura e quão menor é esse nódulo que você tem. Então, em geral, funciona dessa maneira. E quando a gente fala que a paciente tem que fazer a rotina com regularidade, é visando isso. E ainda levar em consideração que o conceito básico de hábito de vida saudável, atividade física, regular, ingestão de água abundante, de alimentos não industrializados, alimentos ricos em vegetais e legumes, será sempre a opção mais adequada; e lembra a questão de fumo e álcool como fator, os evitando”, enfatizou.
Unesc é parceira no tratamento de pacientes de Içara
Germano Duarte Porto, especialista em fisioterapia oncológica, docente do curso de fisioterapia da UNESC, desenvolve com os acadêmicos da 6ª fase do curso de fisioterapia da universidade um trabalho de acompanhamento, por meio de convênio, com as mulheres atendidas pela Casa Rosa de Içara.
“Esse trabalho com a Casa Rosa já fizemos a quase dois anos em fisioterapia e Medicina também, o qual acompanha a mastologista e da radiologia. Já a atuação do fisioterapeuta vem desde a prevenção. Há pacientes que chegam para nós antes de qualquer tratamento oncológico, antes de uma cirurgia, da rádio ou da quimioterapia. Com isso, conseguimos fazer uma prevenção dessas disfunções que vão ser apresentadas pelos tratamentos a serem feitos. Também trabalhamos com pacientes que já realizaram as cirurgias, quimio ou rádio, e vamos atuando junto com eles no sentido de melhorar as disfunções que os tratamentos causam nesses pacientes. Então, por exemplo, tem pacientes que chegam de pós-operatório sem a mobilidade total do braço, então a gente reabilita essa mobilidade, traz de volta a qualidade de vida, a funcionalidade desses membros superiores”, ressaltou Porto.
Ele ainda destaca que os cuidados também são voltados à parte cicatricial da cirurgia, uma recuperação tecidual. Além disso, pacientes que fazem quimioterapia, geralmente, têm muita fadiga oncológica. “Com eles a gente consegue fazer um trabalho aeróbico com o uso de esteiras. Também a parte mucosítica, devido à quimioterapia, que são aquelas feridinhas que podem aparecer na boca, na vulva e no ânus., então a gente também consegue fazer um trabalho em cima dessas mucosites. E ainda temos estagiários na área de uroginecologia, no período noturno, que trabalha a parte ginecológica das pacientes”, revelou o fisioterapeuta.
Questionado sobre o impacto e a necessidade da fisioterapia para as mulheres acometidas pelo câncer de mama, o especialista ressalta o quanto é positivo, pois visa à qualidade de vida das pacientes e restaurar as funcionalidades. “A gente trabalha muito com orientações, porque muitas vezes essas mulheres não saem orientadas do que pode ser feito em um pós-operatório. Assim, devolvemos a elas a qualidade de vida, a funcionalidade, fazendo com as mesmas tenham de volta a vida que tinham antes do diagnóstico do câncer. Então, o principal foco da fisioterapia é esse”.
Números relacionados ao câncer de mama
– Em Santa Catarina, no ano passado, 740 mulheres morreram vítimas do câncer de mama. Em 2023, embora ainda com dados preliminares e incompletos, já ocorreram 546, de acordo com dados registrados no Sistema de Informação de Mortalidade (SIM).
– Segundo a Vigilância Epidemiológia de Santa Catarina na Região Carbonífera ocorreram 33 óbitos por câncer de mama no ano de 2022, e 36 neste ano. No Extremo Sul foram 21 mortes em 2022 e 22 em 2023.
– Em Criciúma, informações da Vigilância Epidemiológica, em 2022, foram registradas 107 internações, com mulheres na faixa etária entre 40 e69 anos com a maioria dos casos, representando 61,7%. Neste ano, no mesmo grupo de idade, até o mês de agosto, a porcentagem é de 74,9% de internações por câncer de mama. Os dados são do Sistema de Informações Hospitalares do SUS. Quanto aos óbitos, foram 14 em 2022 e 18 mulheres em 2023.
– Em Içara, dados da Casa Rosa, foram feitas no ano passado 64 biopsias. Destas, 10 com resultado positivo para câncer de mama. Neste ano, até o dia 6 de outubro, 86 biópsias foram realizadas, com 24 diagnósticos de deram câncer de mama.
Alexandra Cavaler – Jornal Tribuna de Notícias