Por Alexandra Cavaler
Doador de sangue desde 2014, o araranguaense Evandro Santana também está no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome) desde 2017. E para a surpresa dele, no dia 2 de julho deste ano recebeu um e-mail confirmando a compatibilidade com um paciente. Evandro viajou nesta sexta-feira, dia 27, a Brasília, onde vai passar pelo procedimento de retirada da medula. Ele fala sobre os múltiplos sentimentos que envolvem o processo, desde o recebimento do chamado até a expectativa da viagem.
“Quando eu recebi o e-mail, a primeira sensação foi de insegurança, de saber se realmente aquilo ali era verdade ou era alguém querendo usar os meus dados, CPF, enfim, para fazer alguma sacanagem. Mas de maneira clara, procurei primeiro buscar a informação correta no local mais certo que era o Hemosc de Criciúma. Depois disso, eu confesso que fiquei muito contente com a situação e com a possibilidade de realmente poder ser um doador de medula óssea. Inclusive, eu costumo dizer para as pessoas que a gente vem conversando nesses últimos dois meses, que ser compatível com uma pessoa e, talvez, muito provavelmente, salvar a vida dela, é indescritível. Até porque a gente não salva só uma vida, e sim de uma família toda. E eu me ponho no lugar de um pai, de uma mãe, um tio, enfim, porque a gente não sabe se o receptor é uma criança ou uma pessoa mais velha, mas a gente se põe no lugar daquela família que com certeza, se não todos, mas a grande maioria tentou fazer a tipagem para ver verificar a compatibilidade, e nenhum deles foi positivo. Então, poder fazer o bem para uma pessoa não tem preço que pague”, ressaltou.
Santana ressalta ainda o quanto é valioso ver um familiar ou um amigo se recuperando de problemas de saúde. “Quem já passou sabe o quanto dói uma perda, mas também reconhece o quão satisfatório é ver a pessoa restabelecer a saúde. E é sobre isso, se a gente puder fazer o bem a gente sempre vai fazer qualquer outra coisa.
Do chamado à doação
Depois da confirmação e do aceite, Evandro foi encaminhado a Brasília para novos exames e avaliações, com todas as despesas custeadas pelo Ministério da Saúde. E a única informação que tem sobre o receptor é de que ele é de outro país.
“Quanto à notícia da compatibilidade, eu vou te falar que quando eu recebi, eu fiquei bem apreensivo, porque eu recebi a notícia por e-mail, uma coisa que a gente hoje até não tem muito hábito de mexer, mas naquela semana parece que alguma coisa me tocou: abre o teu e-mail porque tem alguma coisa aí para ti. E vi aquela mensagem do Redome. Confirmei tudo com a Rubia, que trabalha no Hemosc de Criciúma. Ela já atualizou meu cadastro e avisou que eles me pediriam uma terceira amostra. E assim foi. Refiz o exame e a compatibilidade se confirmou e eu estou muito feliz com a possibilidade de poder ajudar alguém, a gente sabe do quanto é difícil, digamos que é praticamente uma mega sena ser compatível com alguém. Sobre o receptor, eu apenas sei que é que é de outro país, não é do Brasil, e que até o momento ela, a pessoa, não sabe que tem um doador, porque o doador pode desistir no meio do caminho, mas esse não é o meu caso, não pretendo desistir, vou até o final para fazer essa doação para que ela possa restabelecer a saúde”, assinalou Santana.
Medo de avião
O voluntário ainda revela que entre as sensações sentidas desde que foi comunicado, a viagem de avião foi o que mais lhe causou insegurança. “Nunca viajei para fora do estado, muito menos de avião. Essa é a primeira vez e o medo maior, vou ser bem sincero, é da viagem de avião, mas como tenho o direito de ter acompanhante, minha esposa vai comigo, e isso já me dá mais segurança. Afinal, tudo é desconhecido: viajar de avião, Brasília, o hospital, os procedimentos, mas é por uma boa causa. Além disso, sou muito devoto a Deus, sou uma pessoa muito religiosa, e sei que tudo acontece de acordo com a vontade d’Ele”, enfatizou, acrescentado que todas as despesas são custeadas pelo Ministério as Saúde. “Hospedagem, hotel, alimentação, serviço de transporte, enfim”.
Exemplo seguido por toda a família
Questionado se alguém mais da família é doador de sangue ou de medula, Evandro confirma que tanto a esposa quanto o filho de 16 anos já são doadores de sangue. “Minha esposa é doadora de sangue, e o meu filho, que tem 16 anos, foi questionado por nós sobre o desejo de ser doador de sangue e ele disse que sim. Então, quando fui fazer a última retirada de sangue para compatibilidade, ele foi junto e fez a primeira doação. Lembrando que ele fez por estar junto de acompanhante responsável, no caso eu e a mãe dele, porque ele é menor de idade. Quanto à medula, por enquanto, apenas eu. Minha esposa ainda sente certo receio, mas depois disso que estamos vivendo, acredito que já, já, ela vai entrar para o banco de dados ali e se tornar uma futura doadora de medula óssea. Já o meu filho ainda não pode, porque é menor de idade, mas tem procurado conduzir as pessoas e os amigos para que possam se voluntariar”, disse, convidando: “Você, que tem sangue nas veias, consciência na mente a bondade no coração, faça como eu, seja um doador de sangue e também de medula óssea. Este simples gesto é capaz de salvar a vida de alguém!”.
SC tem 35 pessoas na fila de espera
Atualmente, em Santa Catarina há 35 pessoas na fila de espera para doação de medula e quase 230 mil doadores. No Brasil são 650 pacientes em busca de um doador não aparentado, e quase seis milhões de doadores registrados.
Camila Rodrigues Teixeira, coordenadora técnica do Hemosc de Criciúma, orienta possíveis doadores. “O cadastramento de candidatos à doação de medula óssea é realizado pelo Hemosc que está diretamente vinculado ao Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea. A pessoa interessada em se cadastrar deverá se dirigir a um hemocentro onde receberá orientações sobre o cadastramento e a doação de medula óssea. A doação pode ser realizada até 35 anos. O voluntário pode ser chamado para efetuar a doação com até 60 anos de idade”, explica. “É muito importante termos uma representatividade genética de toda população em nosso banco de doadores. Por isso, estamos sempre promovendo ações para ampliar o número de cadastros, já que isso aumenta as chances de compatibilidade com os pacientes que precisam de transplante”, emendou a diretora-geral do Hemosc, Patrícia Carsten.
Conheça o Redome
O que é? O Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome) foi criado em 1993, em São Paulo, para reunir informações de pessoas dispostas a doar medula óssea para quem precisa de transplante. Desde 1998, é coordenado pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), no Rio de Janeiro. Com mais de 5,5 milhões de doadores cadastrados, é o terceiro maior banco de doadores de medula óssea do mundo e pertence ao Ministério da Saúde, sendo o maior banco com financiamento exclusivamente público. Anualmente são incluídos mais de 125 mil novos doadores no cadastro do Redome, que atua articulado aos cadastros de todo o mundo.
O que faz? Quando não há um doador aparentado (um irmão ou outro parente próximo, geralmente um dos pais), a solução para o transplante é procurar um doador compatível entre indivíduos, não familiares, na população regional ou mundial, que representem os diversos grupos étnicos (brancos, negros, amarelos etc.) e sua miscigenação. O órgão reúne todos os dados dos voluntários, como nome, endereço, resultados de exames e características genéticas.
Para se tornar um doador voluntário? É preciso ir ao Hemocentro mais próximo da sua cidade, realizar um cadastro no Redome e coletar uma amostra de sangue (10 ml) para exame de tipagem HLA. Para isso é necessário:
- Ter entre 18 e 35 anos de idade (O doador permanece no cadastro até 60 anos e pode realizar a doação até esta idade).
- Um documento de identificação oficial com foto.
- Estar em bom estado geral de saúde.
- Não ter nenhuma doença impeditiva para cadastro e doação de medula ósse.
Colaboração: jornal Tribuna de Notícias