Amo até os passarinhos

Olhando este lindo mar, só posso relembrar da época em que minha mãe admirava estas ondas, vivas e com um branco azulado transformando nossas manhãs praianas num dos momentos mais felizes que vivi, quando Filipe e Bruno exigiam de mim o banho de mar todos os dias. Isto acontecia nos meses de dezembro até fevereiro, quando ainda estávamos de férias, eu era professora do Colégio Cristo Rei e Quintino Rizzieri e eles estudavam no CCR. Que época feliz! São momentos inesquecíveis e já se passaram 18 anos.

Imagino que em algum lugar do mundo, alguém está relembrando do passado: dos seus pequenos, de sua mãe, de sua avó. De uma cidade, das roupas que usavam, da comida que sua mãe fazia nas manhãs de domingo: bolo de fubá, sopa deliciosa, caju, pudim, rosca de polvilho e outras guloseimas. Que saudades!

Ou alguém está procurando numa gaveta uma antiga roupa para matar a saudade de alguém. Em outro lugar, em busca das antigas fotografias ou das mais antigas cartas, as mais queridas. Se alguém procurar uma crônica desta escritora, de oito anos atrás, encontrará… Passará seus olhos por curiosidade no que escrevi, hesitará um instante em rasgar, e depois devolverá ao lugar de onde veio…

Ele ou ela poderão pensar: “Onde andará esta escritora? Nem me lembrava mais dela. Será que ainda escreve assim ou está escrevendo seu próximo livro?" Outros ainda me acompanham semanalmente, e estão recortando todas as crônicas para preservarem a história. Obrigada, se não rasgaram, porque eu sinto uma dor quando alguém joga no lixo, imaginem se rasgar, vai doer mais meu coração. Guarde em algum cantinho, porque escrevi num instante de ternura.

Nesta manhã os passarinhos acordaram alvoroçados, a família estava defendendo suas crias, imagino que a maternidade pássara se destacava na estradinha em direção as águas marinhas, porque havia nascido seus filhotes. Através de voos rasantes e agitados sobrevoavam as pessoas que por ali passavam. Dois senhores foram beliscados pelos donos do espaço, e uma senhora gordinha ganhou uma bicada no bumbum.

Da minha sacada eu observava e ainda me lembrava da escritora Cecília Meireles “Moro no último andar, aqui tudo é mais bonito ao ver o mar”. Os passarinhos ficaram horas cuidando da rua branca e calorosa neste início de inverno, 28 de maio de 2013. De repente uma menina e sua mãe atravessavam o espaço dos pássaros.

Talvez o poeta Pinheiro Neto se estivesse observando a cena escreveria outros poemas, e lembrei-me deste, que ilustra um momento lindo que vivi deliciando-me da comunicação  dos passarinhos: “Quero uma manhã inteirinha, clara, limpinha, com sol, orvalho, beleza. Quero uma manhã manhãzinha, com criança, menininha, cachos dourados, róseas faces, sorriso  doce, palavra paz. Quero uma manhã todinha, mas que comece mais tarde, às nove, quem sabe, ás dez…(Pinheiro Neto).

E eu? Quero viver feliz até ficar velhinha, e meus cabelos dourados se tornarão prateados, meu sorriso permanecerá escondido através da minha felicidade ao escrever, e olhando para estas águas cristalinas. Aqui a felicidade me acompanha dia e noite, e a escritora que sou ama até os passarinhos…

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