Santa Catarina é o estado brasileiro com o maior índice de mulheres à frente das propriedades rurais: são quase 19 mil agricultoras que fazem a gestão dos estabelecimentos agropecuários, segundo o Censo Agropecuário de 2017. Em porcentagem, porém, esse número representa 11% do total. Para que o público feminino assuma cada vez mais posições de liderança, a Epagri vem desenvolvendo ações com agricultoras e pescadoras por meio de capacitação, empoderamento financeiro, acesso às políticas públicas, dentre outras ações.
Segundo a presidente da Epagri, Edilene Steinwandter, a Empresa se aproxima das mulheres para dar a elas as melhores ferramentas para tomarem sempre a decisão mais acertada. “Nós cultivamos esse solo fértil e os resultados florescem. Vou dar só um exemplo: um estudo recente da Epagri mostra a crescente presença delas como proprietárias de agroindústrias em Santa Catarina, sobretudo nos empreendimentos de processamento de produtos de origem vegetal. Isso nos enche de orgulho e esperança, porque sabemos que, muitas vezes, é das mulheres que saem as decisões capazes de mudar a realidade de uma família ou até de uma comunidade inteira”, afirma Edilene.
A pescadora de Balneário Piçarras, Adriana Ana Fortunato Linhares, 31 anos, é um exemplo de liderança na comunidade que faz parte: em 2017 ela foi eleita para a presidência da Colônia de Pescadores Z-26, a primeira mulher na história da entidade a alcançar esse posto. Ela atribui a conquista desse espaço à participação no curso para jovens do mar oferecido pela Epagri, que ela fez em 2016. “Através do curso chegamos à conclusão de que é possível fazer mudanças, fazer a diferença”, diz.
E foi baseada no sucesso do curso de organização, gestão e protagonismo oferecido pela Epagri aos jovens desde 2012, que em 2019 a Empresa formatou o curso Mulheres em Ação Flor-e-Ser, promovido até o momento no Norte e no Sul Catarinense. Por meio dele foram capacitadas lideranças femininas rurais e pesqueiraspara que elas ocupem espaços estratégicos nos setores onde atuam. Durante o curso as participantes elaboram um projeto empreendedor para ser aplicado na propriedade e para o qual recebem recursos da Secretaria de Estado da Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento Rural.
Projeto similar ocorre no Oeste Catarinense, chamado “Mulherando”, além de palestras, seminários e cursos em todo Estado, que são espaços importantes do desenvolvimento feminino e de potencialidades empreendedoras. “O objetivo é que elas desenvolvam atividades para ter sua própria renda, sejam valorizadas socialmente e ocupem espaços importantes da agricultura e da pesca, como sindicatos, cooperativas, associações, conselhos municipais”, diz a coordenadora do Programa Capital Humano e Social da Epagri, extensionista Márcia da Rosa Gomes.
Em 2020, a Epagri fez 887 projetos de crédito em nome de mulheres, que também têm à disposição o Pronaf Mulher. Esses recursos vêm dos governos federal e estadual para possibilitar a concretização dos projetos de melhoria nos empreendimentos agrícolas e pesqueiros.
Potencial feminino no campo
A produtora de leite Tatiane Machado, de Caçador, no Meio Oeste Catarinense, saiu da cidade para morar no campo quando se casou, há quatro anos, e hoje se diz realizada como agricultora. Mesmo assim, ela diz que o principal desafio da mulher rural é o preconceito social com a atividade, que não é reconhecida. “Quando falo que atuo com vaca de leite, as pessoas me perguntam se eu trabalho, como se a ordenha não fosse um trabalho. Mas eu não faço só isso: eu planto milho, cuido da sanidade dos animais, da medicação, da alimentação, sou dona de casa”, diz ela.
Segundo a extensionista Márcia Gomes, isso acontece porque trabalho das agricultoras e pescadoras ainda é visto como doméstico. “Isso traz invisibilidade social e econômica dessas atividades. A Epagri se orgulha de acompanhar essa luta feminina colocando sua atuação com foco nas questões de gênero. Além disso, trabalhamos para as mulheres acessem políticas públicas e tenham sua própria renda”, diz Márcia.
E Tatiane confirma isso. “A Epagri me ensinou a sonhar. Tudo o que sou hoje e tenho é graças a ela. Tudo o que sei foi através dos cursos, desde ordenhar uma vaca, fazer a higienização na ordenha, cuidar das terneiras. Se hoje eu e meu esposo estamos aqui, no campo, foi porque a Epagri acreditou que a gente era capaz”, diz a produtora.
A agricultora Juliane Orzekosky Sewald, do município de Princesa, no Oeste Catarinense, afirma que o desafio da mulher é mostrar que ela pode administrar uma propriedade rural e cuidar de tudo o que tem nela com a mesma competência dos homens. “As mulheres que trabalham na agricultura sofrem bastante preconceito porque a sociedade diz que fazemos o trabalho de homem. Não é assim. A gente pode ser vaidosa e trabalhar aqui, no meio das vacas, da silagem, de tudo”, diz Juliane.
“Por isso trabalhamos para despertar a autoestima e a importância do papel da mulher, para prepará-las para produzir e empreender, para se empoderarem economicamente e para que tenham consciência de todo o seu potencial e do importante papel na unidade familiar, sejam como donas do próprio negócio ou em parceria com a família”, ressalta Márcia.
Em Santa Catarina, as mulheres têm participação ativa em todas as atividades econômicas da propriedade, com destaque para a pecuária leiteira. Além disso, a maioria delas é responsável pela manutenção da casa, pelo cuidado com os filhos e com as atividades que têm relação com o autoconsumo. Assim, as mulheres detêm conhecimento sobre sementes, técnicas de cultivo e de criação de animais, épocas de manejo da lavoura, armazenamento de alimentos e ainda fitoterápicos. Todo esse conhecimento é fundamental para a garantia da segurança alimentar e econômica e da saúde das comunidades onde vivem.
Colaboração: Gisele Dias/ Assessoria de Imprensa